Por quê o chá se chama “Chá” em uns lugares e “Tea” em outros, se são exatamente a mesma bebida? Aposto que você, em algum momento, já se pegou fazendo essa pergunta.
Pra explicar melhor, um pouco de História:
Como nasceu o Chá?
O chá surgiu na China antiga, em 2.737 a. C., pelas mãos do Imperador Shen Nong, um governante bastante preocupado com a (própria) saúde e que, por isso, mandava ferver a água antes de bebê-la.
Num dia de verão, em visita a uma das terras do seu reino, a comitiva que acompanhava Nong parou para descansar. Enquanto a água para o Imperador fervia, caíram na panela algumas folhas (da árvore Camelia sinensis, atualmente conhecida como planta do chá), dando uma cor acastanhada ao líquido. Como cientista curioso que era, Nong interessou-se pelo que viu e experimentou a infusão criada acidentalmente. Achou a novidade bastante refrescante e, daí pra frente, só tomava água com “adendo”.

Mas somente durante a dinastia Tang (entre 618 e 906 d.C.), é que o chá se tornou uma bebida nacional na China. Foi nesse período também que ganhou o nome de “ch’a“.
Os budistas foram os responsáveis pela expansão do chá na China e também no Japão, para onde levaram a bebida no Séc. VIII. O chá, bastante popular na corte e nos mosteiros, rapidamente fez sucesso nas outras camadas da sociedade nipónica. No Japão, tornou-se inclusive uma forma de arte, onde o expoente máximo é a “Cerimônia do Chá” que, resumidamente, é o fazer e servir o chá, mas do modo mais perfeito e gracioso possível, demandando anos de treino. Praticamente um balé, todo coreografado.

E o chá ganha o Ocidente!
O primeiro contato registrado do mundo ocidental com o chá vem do cartógrafo e escritor veneziano especializado em descobertas marítimas Giambattista Ramusioum, ao ouvir – por volta de 1530 – um mercador persa contar sobre suas viagens à China, e sobre as características medicinais de uma tal bebida com água quente e folhas. Mas o chá só chegaria à Europa mais para o fim do Séc. XVI, graças a Portugal (o país ocidental que abriu caminho às trocas comerciais com a China). Mais especificamente, graças aos missionários jesuítas que viajavam nos barcos lusitanos pelas rotas marítimas do Oriente. O padre jesuíta Cruz, em 1560, foi o primeiro europeu a realmente provar o chá e a escrever sobre ele.

Portugal trazia o chá para Lisboa. Dalí, os barcos holandeses, aliados naquela época, faziam o transporte para França, Holanda e países do Báltico. Esta aliança comercial durou até 1602, quando a Holanda passou a fazer as rotas do Pacífico com a sua marinha mercante (a recém fundada Companhia Holandesa das Índias Orientais) e a buscar na fonte, sem atravessadores, seus carregamentos.
O sucesso da Companhia tornou o chá muito popular na Holanda. Mas o preço elevado era proibitivo para a população mais simples. Somente com o crescimento das importações (1675), os preços baixaram e a erva passou a ser encontrada também nas lojas alimentares (estou falando do chá! Sei que, em se tratando de Holanda, isso pode dar confusão de interpretação). Em 1680, aparecem no país estabelecimentos públicos para servir a bebida (que, um século e meio depois, seriam substituídas com o mesmo glamour e finalidade pelos Cafés por toda a Europa, assunto pra outro post).

A Rússia imperial passou a se interessar pelo produto depois que a Embaixada Chinesa em Moscow presenteou o Czar Alexis com vários tipos de chás em 1618. A partir de 1689, caravanas de cerca de 300 camelos percorriam – durante 16 meses – uma longa viagem de mais de 17 mil quilómetros para ir à China buscar chá (e você reclamando que o supermercado é longe…). Resultado: chegava valendo mais que ouro! Só em 1900, quando a linha de ferro Transiberiana (o famoso Expresso do Oriente) foi inaugurada é que o chá passou a ter preço acessível, e virou uma bebida quase tão popular quanto a vodka.

Na Inglaterra, o chá chegou tarde. Só em 1662, com o casamento do Rei Carlos II e a princesa portuguesa Catarina de Bragança. Veja a história completa no post Por que o inglês tem o “Chá das Cinco”?
Mais sobre o chá na América e suas várias formas de consumo em “Chá Gelado, com leite e outras inventações”
Mas e o nome?!
Beleza. História legal, já rodei o Mundo quase todo, mas ainda não sei o porque da diferença de nomes.
Então, vamos lá:
O caractere chinês para chá é 茶, mas tem duas formas completamente distintas de se pronunciar. Uma é usada em cantonês e mandarim, que soa como chá e significa ‘apanhar, colher‘. A outra é ‘tê‘, que vem da palavra malaia para a bebida, usada pelo Dialeto Min, falado em Amoy (hoje Hong Kong). Esta duplicidade fez com que o nome do chá nas línguas não chinesas as dividisse em dois grupos:

Chá: Línguas que proninciam a palavra Chá são de países que 1) compravam a erva das regiões chinesas que falam mandarim ou cantonês (em rosa e rosa-choque no mapa) ou 2) compravam das mãos da coroa portuguesa (e suas colônias), que trazia o chá dessas regiões da China e adotaram seu nome de origem. São elas o hindi, japonês, português, persa, albanês, checo, russo, turco, tibetano, árabe, vietnamita, coreano, tailandês, grego, romeno, suaíli e croata.
Tê: Línguas que pronunciam a palavra Tê são de países que 1) compravam a erva das regiões chinesas que falam dialeto Min (Hong Kong e Taiwan, em laranja no mapa) ou 2) compravam das mãos das Companhias das Índias Orientais (holandesa ou inglesa), que traziam o chá dessas regiões da China e mantiveram o nome de origem de seu fornecedor para a mercadoria. São elas o holandês, inglês, alemão, francês, dinamarquês, hebraico, húngaro, finlandês, indonésio, italiano, islandês, letão, tamil, sinhala, castelhano, arménio, galês e latim científico.
Como eu falei no post anterior, são mais de 4 milênios de História, e é impossível caber tudo num post só. Então, no próximo, eu conto como o chá chegou na América, quem inventou o chá gelado e por que tem gente que joga leite no chá!
Até lá!
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Um comentário em ““Chá” ou “Tea”? Tem diferença?”