Quem é que nunca usou (e agradeceu pela invenção de) um forno de micro-ondas? Já ouvi, mais de uma vez, relatos apaixonados do tipo “É a segunda melhor invenção da humanidade! Só perde pra primeira: a mãe”.
Mas, e quem já parou pra pensar de onde veio essa dádiva, que esquenta sua refeição (de um spaghetti a um prato sofisticado, em segundos e sem fazer aquele Cordon Bleu parecer um mexido? Como nasceu a ideia e o que tem por trás dessa caixa mágica de metal? É o que vamos entender hoje…
A origem de tudo.
Para a história ficar completa no entendimento, precisamos voltar no tempo para meados do Séc. XX. É lá que começa um dos estilos que mais me fascinam nas invenções da Humanidade: a junção de outras invenções, que têm seu propósito sozinhas mas que, quando misturadas, dão lugar a uma alquimia que transcende a ideia original e potencializa os usos e benefícios.
O ano é 1940. No meio da Segunda Guerra Mundial, os ingleses John Turton Randall e Harry Boot criam o magnetrón de cavidade. Visando poupar o leitor leigo dos detalhes que podem tornar esse artigo massante (como ânodos, cátodos, elétrons, bobinas, imãs perpendiculares, campos elétricos de 4 mil volts), vamos nos ater apenas aos fatos práticos da invenção. O magnetrón gera ondas eletromagnéticas de 2.4 GHz (gigahertz), consideradas curtas (por isso, micro-ondas).

A invenção inglesa nasceu com o propósito militar de melhorar a precisão de uma invenção alemã de 1904: o RADAR (de Radio Detection And Ranging, ou Detecção e Distanciometria por Rádio), dando aos detectores mais detalhes quanto a velocidade, tamanho e distância do objeto observado.
Mas quem teve o click do uso inusitado foi o engenheiro americano Percy Spencer. Percy trabalhava para a também americana Raytheon Company na implantação e manutenção de radares já na década de 1940. Conta a lenda que, em 1945, durante experiências com a nova tecnologia, Spencer sentiu a barra de chocolate em seu bolso derreter quase que instantaneamente. Intrigado com o que aconteceu (ele também era inventor, colecionando 150 patentes ao longo da vida), passou a fazer testes com outros objetos. Ao expor grãos de milho à radiação, viraram pipoca em segundos. O ovo ferveu na casca e explodiu com a pressão do vapor. Alí, ficou claro o princípio: as micro-ondas agitam (mais precisamente, a 4.9 bilhões de vezes por segundo) as moléculas de água presentes nos alimentos (por isso sua comida esquenta, mas o prato não). E a fricção entre elas gera calor, o que cozinha os alimentos de dentro pra fora. Abriu-se, com isso, um universo totalmente novo. E ele passou a estudar o uso culinário.
Em 1947, a própria Raytheon lançou o primeiro micro-ondas do Mundo: o Radarrange, com 1,80m de altura e 340 Kg de peso. Praticamente uma geladeira. E, ao custo de US$ 5.000,00 (US$ 50.000,00 hoje), dá pra entender porque ele não foi um blockbuster…

O mais próximo do público que a invenção chegou naquela década foi o Speedy Weeny, da Radio Chef. Uma máquina instalada na Estação de Trens de Nova York que esquentava salsichas de cachorro quente em 20 segundos a US$ 0,10 cents cada.

Cozimento rápido, Evolução lenta…
Na verdade, pensando no Mundo de hoje, é difícil acreditar como, apesar de tão útil, o aparelho demorou tanto tempo a evoluir e tornar-se acessível ao grande público. Algumas etapas do processo:
Em 1955, quase 10 anos após o primeiro modelo ser inventado, a americana Tappan trouxe a primeira versão doméstica ao mercado. Montada na parede, e do tamanho de um forno comum, o preço de US$ 1.300,00 (US$ 10.000,00 hoje) era impeditivo e a tentativa sucumbiu.

Em 1967, é lançado o Radarange (aquele mesmo da primeira versão) no modelo portátil. Com 55cm de largura e 38cm de altura (muito próximo dos de hoje), cozinhava um hambúrguer em 60 segundos e custava US$ 495,00 (US$ 3.500,00 hoje). Ainda caro, mas bem melhor que o anterior, né?

Em 1976, o aumento na concorrência entre fabricantes de eletrônicos americanos e (os recém-chegados a este mercado) japoneses causa um boom na evolução do equipamento. A americana Amana lança o micro-ondas programável eletronicamente, capaz de fazer até banho-maria. No Brasil, a engenhoca popularizou-se apenas no início da década de 1990, com a “abertura dos portos” promovida por Collor e sua consequente queda nos preços de importação.
De lá pra cá, pouco houve de saltos evolutivos. Os destaques ficam no controle de potência (de 10% a 100%, útil a depender do alimento, seu estado e do prato que se queira fazer com ele) e do grill, uma resistência elétrica no teto do forno que gera calor, resolvendo duas grandes reclamações dos usuários: alimentos cozidos, mas pálidos (o grill dá aquela gratinada, corando o prato) e massa borrachuda (o calor gerado pelo grill cria aquela casquinha crocante como toque final). O resto é estética pura.

Cuidados no uso
Como os alimentos cozinham de dentro para fora no micro-ondas, líquidos podem ser traiçoeiros quando aquecidos nele. Há muitos relatos de queimaduras graves porque os líquidos “explodem” depois de quentes. Isto ocorre porque todo líquido forma uma membrana invisível em sua superfície (a chamada “tensão superficial”, a mesma que permite mosquitos andarem sobre um lago). Como o aquecimento ocorre de dentro pra fora, a tensão pode não ser quebrada, mantendo o líquido como que em uma bolha. Olhando de fora, a caneca parece normal. Mas, ao mexê-la quando você a retira de dentro do forno, a membrana é rompida e a pressão interna faz com que o líquido quente jorre dela na sua mão ou rosto. O melhor é, após um ciclo maior que 01 minuto, não tirar a caneca do forno imediatamente. Coloque uma colher de madeira na caneca ao aquecer, se possível. Reduz enormemente o risco de formação dessa camada.

Jamais coloque objetos metálicos dentro do forno. Apenas vidro, cerâmica ou plástico indicados como apropriados a este uso pelo fabricante. Até mesmo pratos de cerâmica com aquela faixa metálica decorativa pintada devem ser evitados. O metal, em vez de absorver, reflete a radiação, danificando o aparelho ou mesmo causando um incêndio com suas faíscas.

Não aqueça nada em recipientes fechados ou ovos na casca. Ambos podem explodir pelo mesmo motivo. Certifique-se de deixar uma fuga para o vapor que será criado durante o preparo. E utilize aquelas coberturas plásticas. Elas podem te poupar um trabalhão! É mais fácil limpar uma dessas caso o molho respingue do que todo o interior do seu forno.

No mais, é aproveitar. O tempo que você levou lendo este artigo foi o suficiente para deixar no ponto aquele prato congelado que você comprou porque estava com preguiça de cozinhar. Bom apetite!
Quer saber de mais histórias e curiosidades? Assine o www.edusantoro.blog!
Adoro a praticidade, mas já tive informação de que essa agitação molecular traz prejuízos para os nutrientes, diferentemente do forno ou mesmo air fryer. Também soube que duas brasileiras inventaram um aparelho com função inversa, ou seja, de esfriar rapidamente, mas não sei se será industrializado.
CurtirCurtir
Salve, Marcos! As questões sobre prejuízos e malefícios da agitação molecular, ou mesmo sobre a exposição à radiação eletromagnética ainda são muito controversas. Até porque ainda se confunde radiação com radioatividade (essa sim letal). Mas vou checar. Inclusive sobre essa invenção das brasileiras. Obrigado pela mensagem!
CurtirCurtir