Halloween – Verdades e Mitos – Parte 1

Fim de Outubro vai chegando e a criançada, que mal descansou do Dia da Criança, já está pensando em que fantasia usar no Dia das Bruxas. 

Adultos também compartilham dessa excitação. Acho que só a Oktoberfest e dois feriados no mesmo mês (três, se você for professor, comerciário ou funcionário público) animam mais os “crescidinhos” em Outubro que a festa do dia 31.

Você já deve ter ouvido muito por aí que o Halloween é algo demoníaco, do mal. Ledo engano. Desinformação pura de quem propaga essa versão. Pois é justamente o oposto. Nem Dia das Bruxas ele é de verdade…

Bem, é um assunto polêmico, mas tão rico e interessante, que tive de dividir este post em duas partes.

A primeira contando a origem da Festa e a segunda, como chegou à América (e ao Mundo) e os contornos que ganhou ao ser incorporada por outras culturas. Vamos lá?

Começando do começo.

Pra início de conversa, o Halloween não nasceu nos Estados Unidos (o que já é um desapontamento pra quem reclama da “americanização” de nossa cultura. Vou falar mais sobre isso depois). E, como eu já disse, nem tinha ligação alguma com bruxas!

A festa nasceu na Irlanda. Historiadores apontam sua origem no antigo festival da cultura do povo Celta (mais especificamente de sua religião Druida), chamado Samhain (termo que significa literalmente “fim do verão”). 

O Samhain, celebrado entre os anos 600 a.C. e 800 d.C., durava quatro dias, indo de 30 de outubro a 02 de novembro, a meio caminho entre o equinócio de outono e o solstício de inverno no hemisfério norte. Assim como os egípcios, os Celtas tinham uma ligação muito forte com os ciclos celestes e posições solares. 

Estudos recentes destacam que o Samhain tinha entre suas maiores marcas: a homenagem ao “Rei dos mortos” (acreditavam que os espíritos voltavam à Terra neste período), agradecimento à abundância de comida ao fim da época das colheitas, as fogueiras usadas na queima do joio derivado dessas colheitas e a comemoração do Ano Novo Celta.

Os Celtas celebravam por dias em agradecimento.

Os temas e símbolos.

Os Druidas (assim como os Astecas, Maias e Incas antigamente, e mexicanos e peruanos hoje) abordavam a morte sem tristeza ou pesar. Muito pelo contrário.

Os mortos eram celebrados e reverenciados como os ancestrais que abriram os caminhos para sermos quem somos hoje. A abordagem me lembrou demais o filme “Viva – A Vida É Uma Festa” (Disney Pixar, 2017).

A “festa dos mortos” era uma das suas datas mais importantes, pois celebrava o que para os cristãos seriam “o céu e a terra” (conceitos que só chegaram com o cristianismo).

Para os Celtas, o lugar dos mortos era um lugar de felicidade perfeita, onde não haveria fome nem dor. As festas eram presididas pelos sacerdotes Druidas, que atuavam como médiuns entre as pessoas e os seus antepassados. 

Dizia-se também que os espíritos dos mortos voltavam nessa data para visitar seus antigos lares e guiar os seus familiares rumo ao outro mundo. As comidas preferidas dos entes que se foram eram servidas em banquetes. As fogueiras ajudavam a iluminar seus caminhos.

E, como gente ruim também morre, os Celtas usavam de alguns truques para afugentar os maus espíritos: 

Entre eles, lanternas (originalmente feitas com nabos, mais abundantes na Irlanda) com caras assustadoras. Esta tradição tem origem em um conto celta sobre um rapaz (Jack o’lantern) que foi proibido de entrar no céu e no inferno e vaga eternamente com sua lanterna em busca de descanso. 

Quando a tradição alcançou a América (falaremos em detalhes na segunda parte do post), os nabos foram substituídos por abóboras, mais abundantes na nova terra, e mais macias para esculpir (o que também facilitou a aparição de outras “caras” além da tradicional, com olhos e dentes triangulares. Hoje, há até concursos de melhor escultura).

Este foi um concurso de esculturas que encontrei em Nova York, com Edgar Allan Poe e seu personagem mais famoso, o Corvo.

Os Celtas também acreditavam que usar máscaras e fantasias no dia do Samhain ajudava a enganar os maus espíritos, que não reconheciam os humanos e continuavam vagando pelo mundo sem incomodar.

Esqueletos e fantasmas faziam parte dos adereços porque, para os Celtas, os mortos assumiam estas formas, entre outras.

Os morcegos entraram na decoração porque os festivais de Samhain sempre envolviam o uso de fogueiras no meio da floresta, que acabavam por atrair estes voadores.

As cores laranja e preto são associadas ao Halloween porque o festival do Samhain era comemorado no início do outono, quando as folhas se tornam laranjas e os dias são mais escuros. E, se você estranhou a data do início do outono, lembre-se que o início do outono atual no Hemisfério Norte (23 de setembro) só passou a valer após a adoção do calendário gregoriano (Papa Gregório XIII) em 1582.

A famosa frase “Doce ou travessura” (Trick or treat, em inglês) entrou na festa só depois, quando a celebração foi incorporada à religião cristã (mais detalhes adiante). Na Idade Média, um costume do Dia de Finados era o souling (de “soul“, alma), em que crianças iam pedindo pelas portas um bolo, o “bolo das almas”. Em troca, faziam uma oração pelos familiares falecidos de quem lhes dava o bolo. Essa ação derivou para a tradição (menos sacra, digamos) de pedir uma guloseima, sob ameaça de fazer uma travessura – muito possivelmente originada na Inglaterra. 

No período da perseguição protestante contra os católicos (1500-1700), ingleses protestantes mascarados batiam nas casas de católicos exigindo deles cerveja e pastéis, dizendo-lhes: trick or treat (doce ou travessuras), para não “aprontar algo” na casa de quem se negasse a contribuir. Com o tempo, crianças passaram a fazer a romaria pedindo apenas doces (tipo o nosso “Cosme e Damião”).

Crianças fantasiadas se divertem pedindo doces de casa em casa.

O nome.

A festividade gaélica do Samhain é apenas um dos inúmeros exemplos de festas pagãs que foram incorporadas ao calendário católico como forma de facilitar o processo de cristianização dos festivais “pagãos” de culturas não católicas. 

Vamos nos aprofundar nesta questão em posts futuros, mas, boas ilustrações de datas cristãs mescladas a festas que já existiam antes do Cristianismo são: o Natal em 25 de Dezembro (da celebração do solstício de inverno), a Páscoa (do Pessach no calendário judaico) ou mesmo o Carnaval.

No caso em questão, o que contam os livros? 

A festa em honra de Todos os Santos na Igreja Católica, inicialmente, era celebrada no dia 13 de maio. Mas o Papa Gregório III mudou a data para 01 de novembro, dia em que este evento era celebrado na capela de Todos os Santos da Basílica de São Pedro, em Roma, a fim de unificar o festejo. Mais tarde, no ano de 840, o Papa Gregório IV ordenou que a festa de Todos os Santos fosse celebrada universalmente.

Como toda grande festa religiosa, esta também ganhou a sua celebração vespertina ou vigília, que prepara a festa no dia anterior (31 de outubro). Na tradução para o inglês arcaico, essa vigília era chamada All Hallow’s Eve (Vigília de Todos os Santos) na Escócia, passando depois pelas formas All Hallowed Eve e All Hallow Een até chegar à palavra atual Halloween

Ou seja, o Halloween é a véspera do Dia de Todos os Santos que, por sua vez, precede o Dia dos Mortos, ou Dia de Finados.

E a vigília facilmente virou Festa, a exemplo do Carnaval, “festa da carne” que precede 40 dias de abstinência (quaresma) antes da celebração da Paixão de Cristo.

Continua…

Na segunda parte, a gente conversa sobre como o Halloween chegou à América (e ao Mundo) e porque mudou tanto de cara e significados ao longo do tempo até o formato que conhecemos hoje.

Não perca! Fique de olho que o próximo post sai amanhã!

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Publicado por Edu Santoro

Mais de 30 anos de experiência nas áreas de produção internacional, gestão de problemas, planejamento, logística e execução dos mais diversos tipos de produtos e eventos. Além de Restauranteur, enófilo e empreendedor, palestrante, curioso nível hard, é apaixonado por História, viagens, fotografia, tecnologia, cervejas, vinhos, whiskeys, whiskys, culinária, Agilidade e qualquer ferramenta ou conhecimento - ainda que não relacionado à sua formação de origem - que possa auxiliar na meta de tornar a vida mais leve e prática. Pra completar, mais duas paixões: o storytelling e o prazer de difundir o que aprende.

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