Por inúmeras vezes, ouvi em palestras, cursos, podcasts e artigos que, para certas áreas, não tem jeito: a coisa tem de ser waterfall (cascata), visto por muitos como uma linha tradicional e “ultrapassada” de gestão.
Pra quem não conhece, uma rápida explanação: o oficialmente chamado Gráfico de Gantt (em homenagem a seu inventor, o engenheiro americano Henry Lawrence Gantt, 1861-1919) revolucionou a administração de produtividade no início do Séc. XX. Ele ilustra, com barras sobre um cronograma, cada etapa do processo de um projeto. Evidenciando, inclusive, dependências entre elas, quando uma só pode começar quando a outra terminar, porque a etapa seguinte depende da finalização da anterior para ter os insumos necessários para iniciar sua execução. Com isso, o desenho fica parecido com uma escadinha, uma cascata de água (ou waterfall, em inglês). Daí, o apelido famoso.
E revolucionou é a palavra. Pela primeira vez na História, tinha-se em um só gráfico, e com clareza, as principais informações sobre o projeto em andamento:
- previsão de término de cada etapa, e do projeto como um todo;
- em um olhar, sabia-se se a execução estava dentro do cronograma previsto ou se precisava de ajustes;
- expunha dependências entre etapas, como já falamos acima;
- permitia uma fácil coordenação dos recursos;
- permitia critérios de premiação (o lado humanista de Gantt) aos que terminassem suas tarefas antes do prazo estipulado, incentivando a eficiência (não necessariamente a eficácia. Falamos nisso depois).
Resumindo, era praticamente o avô do quadro kanban no sentido de precursor da gestão visual.

Mas, para que seja bem aplicado, o gráfico de Gantt tem algumas premissas muito específicas. A principal é a previsibilidade de todas as etapas do processo e da duração de cada etapa. Convenhamos, nem todo tipo de projeto nos permite esse luxo.
Aplicações práticas
A construção civil é um belo exemplo de projeto que, sim, usa o waterfall com maestria. Quando você vai planejar e construir um prédio de 20 andares, com 04 apartamentos por andar, você tem de ter previamente a planta, especificações de materiais, etc., para poder orçar custos e prazos. E não se corre o risco de nascer mais um apartamento, mais um andar ou sub-solo. A previsibilidade está em todas as etapas por natureza. Até na ordenação das tarefas. Não adianta querer adiantar a pintura se a parede não acabou de ser feita e o cimento não tiver secado.

Há quem defenda (e não vou entrar neste mérito aqui porque, para um agnóstico como eu, essa discussão é perda de tempo) que grafico cascata é, por definição, gestão tradicional, old school, e incompatível com os modernos Métodos Ágeis. Mas eis que acontece…
… A mágica versatilidade da Agilidade
Em visita ao stand (recém inaugurado) de um prédio em construção aqui na cidade, o que mais impactou a mim e à minha esposa não foram as várias premiações da Construtora Patriani em seu curto tempo de existência, o luxo e o cuidado nos detalhes de Receptivo e apresentação do projeto arquitetônico ao cliente, da sustentabilidade presente na “fazenda de placas solares” (gerando energia para o prédio) e reaproveitamento da água da chuva, das tomadas para recarga de carros elétricos em cada vaga de garagem ou do gerador que – além das áreas sociais – alimenta a tomada da geladeira e a iluminação da sala e cozinha em caso de falta de energia da rede.

O que me deixou de queixo caído foi o que a Patriani chama de:
“Entrega Virtual das Chaves”
Conceito simples, mas brilhantemente funcional, completamente moldado nos princípios da Agilidade. E essa, eu tinha que trazer para contar aqui para você.
Funciona assim: a previsão de entrega das chaves é de 3 anos após o início das obras. Com um ano de andamento, convidam os compradores para visitarem uma unidade modelo exatamente como a que será entregue com o “habite-se”, dalí a dois anos. Isso facilita demais a vida do cliente, já que poucos têm (e nem têm a obrigação de ter) noção espacial para, ao ver uma planta baixa, imaginar exatamente como será o apartamento em 3D. E, menos ainda, noções de acabamentos apenas pelos códigos dos fabricantes citados no memorial descritivo (porcelanato semi-fosco, mármore bege-Bahia, melamina).

Então, os proprietários ganham alguns meses para pensarem em alterações que queiram fazer nas tubulações de água, pontos de elétrica, posição de paredes e portas… Até mesmo de acabamentos. Quer mudar a cor da parede? Agora é a hora. Quer mudar o porcelanato do piso ou o material da bancada da pia? Orçam para você o novo e abatem o valor que não gastarão no que deixou de ser instalado.
Terminada a fase das definições destes detalhes, a obra passa a adotar, para cada apartamento, as alterações pedidas por seus proprietários, poupando tempo, dinheiro e dor de cabeça. Nada de “vamos terminar o projeto original primeiro e entregamos só quando estiver tudo pronto, para o cliente avaliar” (quer mais mindset ágil que isso?).

Isso é de uma praticidade e obviedade ímpares! Mas está longe de ser o padrão no mercado imobiliário hoje.
Segundo dados da própria Patriani, cerca de 80% dos apartamentos 0Km sofrem obras de adaptação logo após serem entregues, para que os donos os deixem com a cara deles. Ou seja: colocar materiais novos na obra, para quebrá-los antes mesmo de serem usados, e substituí-los por outros materiais em seguida. E você pagando os dois (!?!). Isso é de uma irracionalidade constrangedora, por tamanha falta de sustentabilidade, geração de entulho desnecessário, desperdício de dinheiro e tempo.
É como comprar um carro zero e, ao tirá-lo da concessionária, levá-lo direto para a oficina pra mudar a cor da pintura, grade da frente, luz dos faróis e estofamento dos bancos.

Sem falar no incômodo com os vizinhos. Você entra no seu apartamento novo, acabou de passar pelo perrengue da mudança, ainda está no trabalhoso processo de desencaixotar seus pertences e já tem de enfrentar poeira e marteladas do morador de cima, que não curtiu o piso original…
Um pequeno ajuste de processo traz um ganho gigante de valor ao cliente que, praticamente pelo mesmo valor, recebe um apartamento customizado só para ele.
Mesmo num meio tradicional, que utiliza gráficos de Gantt como bússolas, há espaço para a inovação.
Prova de que Agilidade e waterfall podem conviver harmonicamente no mesmo projeto, que há espaço para diferentes ferramentas – sem soberania – a depender do problema a ser resolvido.
E explica, sem mais delongas, o porque tanto se diz que – muito mais que frameworks e ferramentas – Agilidade é um modo de pensar, de ver as soluções e melhorias de uma maneira diferente, “fora da caixa”.
Ponto pra Patriani!
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Interessantissimo!!! Por que as construtoras não tornam isso um procedimento padrão? Economiza e abrevia a entrega!
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Me pergunto sempre sobre isso também, Marcos. Ainda adota-se o velho modelo, talvez até por comodidade ou por não se estar aberto a modernizações. Antigamente, ainda fazia sentido, por conta da falta de ferramentas ou visão. Hoje, com a troca de informações que a internet proprociona, essa resistência ao “fazer melhor e mais barato para ambos” não cabe mais. Quem insistir, vai ser engolido pelo mercado, como tem acontecido entre Bancos tradicionais X Fintechs…
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